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Coberturas

Cientista da educação, Gladis Kaercher propõe novo modo de ver o acolhimento às infâncias

Palestra de abertura do VI Seminário Criança na Mídia – I Seminário Recria ocorreu na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo/RS

Por Mônica Rodrigues da Costa

O VI Seminário Criança na Mídia – I Seminário Recria, com o tema Infâncias, Violências e Mídias no Século XXI, ocorreu nos dias em 18 e 19 de outubro, na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, com a proposta de ampliar a percepção sobre as infâncias e produzir conhecimentos interdisciplinares relacionados às crianças e aos adolescentes.
O evento teve formato híbrido e foi organizado pelo Núcleo de Estudos Criança na Mídia, da Feevale, coordenado pela professora Saraí Schmidt; e pela Rede de Pesquisa em Comunicação, Infâncias e Adolescências – Recria, da qual a professora é uma das cofundadoras.

 

Na palestra de abertura, a pesquisadora Gladis Kaercher propôs uma série de reflexões sobre as infâncias no Brasil. “Falo do lugar de uma mulher negra, mãe, cientista e professora para lembrar que existem lugares diferentes e é dessa percepção que me permito falar hoje. Não desprezo teóricos brancos, mas priorizo quem ainda não foi priorizado; e essa é uma escolha epistemológica”, afirmou no início de sua exposição.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gladis, que é doutora e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou a existência de violências contra as infâncias nas escolas, nas famílias e na convivência social como um todo. “A obviedade precisa ser reafirmada”, disse Gladis. “Nossos maiores desafios são redescobrir a relação possível com a infância, sermos capazes de voltar uma casinha e retomar os princípios de proteção, provimento e protagonismo.”

Violência das mídias – A pesquisadora salientou que a mídia é um dos espaços que têm de ser repensado em sua relação com as crianças. Segundo Gladis, a mídia impõe certas imagens sobre as infâncias que se repetem, por exemplo, nos conteúdos ficcionais, como novelas, seriados e filmes. “O entretenimento midiático propõe modos de conformidade. O gênero policial dos filmes e seriados somente passou a ser protagonizado por mulheres nos últimos 20 anos”, exemplificou. A pesquisadora apontou que só agora mulheres passaram a ocupar papéis, nessas narrativas, de investigadoras, legistas, advogadas criminais ou jornalistas e reforçou que personagens transmitem
modelos a serem incorporados.

 

“As meninas são atravessadas por discursos, práticas, normas que atuam para moldar e condicionar suas experiências no mundo e suas subjetividades”, disse Gladis. Ela também tratou da questão do racismo estrutural da sociedade brasileira, dando exemplos de situações que ocorreram com sua própria família e de acontecimentos que foram noticiados nos últimos anos que envolviam crianças negras assassinadas. “A cor sempre chega antes”, definiu a pesquisadora, afirmando que todas as pessoas negras sofrem com o racismo.

 

Gladis lembrou que, com as meninas pretas, o racismo é ainda maior: “Os corpos das meninas são territórios que podem ser ocupados pela violência patriarcal”. Para ela, determinados enquadramentos feitos pela mídia fazem com que a sociedade normalize a violência com crianças e adolescentes negras. Dessa forma, o fato de esses corpos de meninas serem constantemente enquadrados em situações de violência extrema e espetacular faz com que as pessoas se acostumem com essas imagens e narrativas e não façam nada para mudar.
Gladis, no entanto, destacou que é possível, mesmo para mídia, pensar a infância de um outro modo. “A mídia educa e produz formas de ser e estar no mundo que podem ficar a serviço dos processos civilizatórios protetores que salvaguardam o direito à infância”, afirmou. Se a ideia de infância foi construída, como salientou a pesquisadora, é possível, então, pensar as crianças de outra maneira.

 

O Seminário contou também com debates em grupos de trabalho temáticos entre acadêmicos, lançamentos de livros e uma mesa de encerramento com as pesquisadoras Ângela Farah (Doutora em Ciências da Comunicação e pesquisadora vinculada ao Centro Universitário da Cidade de União da Vitória – UNIUV), Karina Barbosa (Doutora em Ciências da Comunicação e pesquisadora
vinculada a Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP) e Ingrid Martins (Doutoranda em Ciências Sociais pela Facultad Latinoamericana de
Ciencias Sociales - FLACSO Argentina). 

Saiba mais em:
https://criancanamidia.com.br/
https://rederecria.com.br/

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